Muito se fala hoje em dia sobre mulheres e suas carreiras, porém,
fala-se praticamente a mesma coisa sempre, não havendo estudos mais profundos
sobre a questão. A abordagem do tema
geralmente gira em torno dos desafios da mulher ao combinar a carreira com a
maternidade e responsabilidades domésticas e que esta dificuldade vai diminuindo
com o passar do tempo. Doce ilusão!
Na primeira fase da vida profissional, realmente a mulher é mais jovem e
possui ambições de crescer na carreira como qualquer profissional, sem pensar
no futuro. Percebe, apenas, o sexismo,
que a coloca em nível inferior ao homem, uma realidade ainda não resolvida na
sociedade.
Mais a frente, as mulheres encaram a maternidade e fica evidenciada uma
característica interessante – elas possuem uma forma muito própria de se
relacionar com a carreira e com a família e que é muito diferente da do
homem. Assim, chega em um dado momento, em que são
obrigadas a interromper sua carreira para ter filhos. Há aquelas que, hoje em dia, até deixam para mais
tarde momento, de forma a se dedicarem
ao máximo ao trabalho antes dos filhos chegarem.
A mulher privilegia o equilíbrio entre o trabalho e seus outros compromissos,
além da autenticidade, o que significa ser mais fiel a si própria, a seus
valores sociais e pessoais. Tanto que,
um aspecto que permeia o discurso das
mulheres em geral é a questão da culpa que carregam, seja por pensarem que não
suprem as necessidades das empresas, seja não ficando tanto tempo como gostaria
com seus filhos ou família. Com isto as
decisões sobre sua carreira ao longo da vida refletem sempre sua tentativa de
equilibrar esta questão.
Ao chegar aos 50, a mulher se dá conta que os filhos estão grandes e que
poderia retomar à carreira de onde parou, mas novamente terá que lidar com
fatos de sua vida: além das interrupções
de carreira que deixaram algumas marcas, está mais velha, enfrenta problemas
físicos (menopausa e efeitos físicos), provavelmente terá pais ou netos para
cuidar e, além disto, terá que enfrentar uma dupla discriminação – a do gênero e a da idade.
Quando o homem chega aos 50, provavelmente seus filhos estão criados ou
está divorciado e pode dedicar-se inteiramene ao trabalho, apesar de sofrer
também com os estereótipos relacionados à idade. Entretanto, o ageísmo (discriminação pela
idade) nas mulheres parece ser mais cruel e pode excluir até a mulher “fora de
forma” de certas oportunidades, quando a retira de chances de trabalho devido a
sua aparência, por parecer muito velha, por ter pouca flexibilidade e até energia
(durante a menopausa) em comparação com profissionais mais jovens e até com homens
da mesma faixa étaria.
Neste caso,
parece haver mais discriminação pela idade no caso das mulheres do que no dos
homens. Por fim, além do ageísmo, existe
o sexismo, trazendo para a mulher a discriminação de gênero, colocando o seu
conhecimento em nível inferior ao do homem.
Em suma, constata-se que, diferentemente do que os pesquisadores
costumam colocar sobre as mulheres, não é somente até ter filhos que sua
carreira é fragmentada. A mulher tem
diversas interrupções em sua carreira ao longo da vida, diferentemente de uma
carreira tradicional linear masculina. A
carreira da mulher exige de fato maior flexibilidade e paradas do que a do
homem. Entretanto, outras pesquisas
apontam a contribuição fenomenal das mulheres para as organizações, o que remete
ao fato de que não se pode desperdiçar tais talentos.
Se o mercado carece de talentos, as empresas necessitam de profissionais
experientes, a sociedade precisa recolocar a população mais madura no mercado
de trabalho, devido ao aumento crescente da expectativa de vida da população
mais velha, parece estar claro que já é hora de se refletir em como reinserir
estas mulheres no mercado de trabalho.
Não é possível que mulheres com capacidades brilhantes sofram com
dificuldade de inserção no mercado de trabalho por questões como maternidade,
cuidados com filhos, pais e netos, menopausa, idade e gênero. Fato é que as mulheres têm muito a oferecer só
que dentro de condições diferentes, talvez com maior flexibilidade e com
respeito às suas peculiaridades que, por existirem, também contribuem para a
sociedade de outra forma, através dos seus cuidados com filhos, pais, netos e
cônjuges.
É importante que haja um maior estudo sobre as questões que envolvem a mulher
e o trabalho. Isto por várias
razões: para que elas possam se preparar
para o que vão enfrentar durante suas carreiras, para que os gestores possam
estudar formas de integrar estas mulheres nas organizações, minimizando questões
de discriminação, criando ambientes e condições adaptativas a elas, e
consequentemente, levando às organizações
a usufruir de suas brilhantes colaborações, como também, à população feminina a
exercer sua identidade profissional de forma menos sofrida e mais justa.
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